sábado, 4 de julho de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
terça-feira, 30 de junho de 2009
Os Amigos da Rua.
O Inverno do Avesso.
sábado, 27 de junho de 2009
O Dia da (In)dependência.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
A Clara Certeza da Escolha.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Aparências e Ilusões.
É assim, aqui. Ou querem fazer assim parecer.
domingo, 7 de junho de 2009
O Fantasma do Garrett.
Sobem-se as escadinhas estreitas, depois de deixar o carro e bufar cada vez mais seco que não às crianças pedintes que infestam as ruas. Agora já as ameaço que as levarei para o orfanato. Algumas assustam-se. Outras não sabem o que isso é.
As escadas terminam e, no final, todo o espaço fica à esquerda. Depara-se uma sala pequena, com três ou quatro mesas e o balcão, à esquerda também. Lá ao fundo, uma sala de bilhar, grande. E à direita, a varanda, maior que o resto do café, estilo esplanada. Há duas telas para projecção, uma dentro, outra fora. Todas as mesas e paredes são dominadas pelas cores e logótipo da maior empresa de comunicações móveis de Moçambique. Verde e amarelo. Tudo gasto e velho. Tudo bem. Tudo normal.
O gerente, um senhor de quarenta e muitos anos, indiano nascido português e filho do fundador do café, esforça-se por agradar aos que fazem lembrar-se de tempos melhores. Ele que o diz. Hoje tentou ligar o projector, mas não conseguiu. Portugal viu-se de longe, mais longe do que daqui aí, mas viu-se.
Ainda o jogo não tinha começado, outro homem, mal pediu, sentou-se. Como sempre, fiquei a observar fixamente sem dizer palavra, como se não estivesse ali, mas a deixar claro que estava. Era indiano de feições, cinquenta anos, barba grisalha de muçulmano, sem bigode, túnica branca comprida e aquele chapéuzinho redondo típico na cabeça. Tinha óculos, mas usava-os sustentados na testa, bem acima das sobrancelhas. As lentes tinham, na parte de baixo, uma alteração que já não via há anos – a parte para ler e ver ao perto. Podia estar numa manifestação anti-América no Paquistão, que não seria de estranhar.
Apresentou-se mas depressa disse que era difícil soletrar. E, sem que alguém lhe pedisse o que quer que fosse, puxou de uma caneta e escreveu com energia o seu nome num guardanapo. Mesmo apesar de a caneta não deixar tinta, ele continuava a escrever, como se visse algo a aparecer no papel. Emprestei-lhe a minha. Chamava-se Momadikhatir ou algo do género. Então lá explicou que quando foi levado pelo pai saudita e mãe indiana ao registo português de Nampula, o senhor do registo, provavelmente farto de nomes incompreensíveis, registou como ouviu. Porque deveria ser Momade (versão moçambicana de Mohammed) Ikhatir. Aliás, como professor que é, deveria merecer melhor tratamento, dizia. Logo ele, que após a independência, decidiu manter a nacionalidade Portuguesa, merecia mais. Merecia mais.
Depois começou a falar de futebol e nós para trás e nós para a frente, o gajo só serve para a formação ou para treinador adjunto e não acredito que ganhemos o resto dos jogos até ao fim. E percebi que estava a falar de Portugal.
Então não está triste por o seu Moçambique ter perdido (tinha acabado de perder dois zero com a Tunísia)?
O meu? O meu joga a seguir.
Como se se tratasse de um fantasma a assombrar despreocupado a casa em que viveu toda a vida, mas sem se aperceber de que já não há nada nem ninguém para assombrar.
sábado, 6 de junho de 2009
A Caminho de Mim.
A encher a boca o mais que posso com o amor salgado e doce, apurado e macio que por esta hora já ela deve estar a engendrar, com a lagrimita costumeira no canto do olho.
É uma lagrimita de mimo, mais do que de saudade. É de saudade, claro, mas o menos óbvio é ser mais de mimo. Pois é assim a minha mãe.
A lágrima que ela chora agora é de alegria muda, como a vergonha de uma criança apanhada que esconde um segredo, porque a distância, do tempo e da terra, é um enorme nada quando posta ao lado do amor que ela sabe que a sua para sempre cria traz por si. Como se dissesse e lamentasse, como se protestasse e amuasse, mas que no fundo sorri feliz, pois sabe que as coisas serão sempre como são e não mudarão.
É uma sensação que restabelece e reequilibra. A noção cada vez mais concreta e menos vaga da saída. Como se o raciocínio claro começasse a acordar de uma longa hibernação, de um hipnotismo necessário à sobrevivência mas caro à vontade e ao carácter.
Um mês. Espera-me com um pedaço de terra para eu beijar.
terça-feira, 2 de junho de 2009
Porcos de Pérolas.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
quarta-feira, 20 de maio de 2009
O Belo e o Real.
São conceitos complexos. Fim e fundamento implicam juízos morais, que habitualmente variam, consoante a pessoa e consoante o contexto, sem que isso afecte a convicção pessoal da validade de cada uma. O que traz naturalmente alguma dificuldade no encontro de consensos.
Há porém, algumas dessas ideias que, pela característica intrínseca de elementaridade e pela abrangência universal dos seus efeitos, tornam-se um pouco “mais importantes” para a maioria dos juízos e das convicções.
Moçambique é um país que, apesar da muita chuva que cai na estação húmida, sofre com a falta de água. E isto acontece porque não existem infraestruturas que garantam não só o armazenamento da água mas também, e sobretudo, a distribuição em rede. O que acarreta uma realidade bem conhecida no interior de Portugal até há poucas dezenas de anos, que é a necessidade de percorrer muitos quilómetros para ter alguma água em casa. Este simples facto traz atrasos na lida diária da casa e no quotidiano das gentes de tal ordem que a questão assume foros de verdadeira tarefa diária, como o nosso “ir às compras” ou “ir tratar de um assunto à cidade”.
Desta forma, a importância da água e do seu abastecimento próximo é um pouco “maior” para comunidades empobrecidas que, para obter um pouco dela, são obrigadas a calcorrear centenas de quilómetros por mês, sempre debaixo de um sol impiedoso.
Quando, em finais de Março, a Helpo inaugurou dois poços junto a duas escolas que não tinham água pelo menos a três quilómetros de distância, as populações rejubilaram e agradeceram. Houve festa, em Makassa e em Natchetche. Houve discursos formais e gargalhadas informais, deles e de nós, houve música ao vivo, houve sumo, houve brilhos nos olhares e alegria nos sons. Algumas crianças brincavam na água, como se esse gesto fosse exorcizar o peso que tanto os oprimiu desde que nasceram.
Mas mais que o arrebatamento das mães emocionadas a apertarem-nos o braço quando viram água a jorrar, mexia connosco a vigilância militante de adultos e meninos durante a prospecção do furo.
Fazer um furo pode durar mais ou menos tempo. Obviamente. Mas leva sempre o seu tempo. Primeiro, é necessário que, através de tradições ancestrais ou de técnicas modernas, algo ou alguém afiance que corre água naquele ponto, vários metros abaixo da superfície. Depois, a máquina entra em acção. O problema está em que, mesmo que seja verdade que algures ali corre água, seja a vinte ou a quarenta metros de profundidade, pelo caminho pode encontrar-se o maior inimigo da empreitada: rocha. Se surgir um veio de rocha no caminho do furo, nada há a fazer senão desistir e tentar de novo noutro lado.
Como todos sabem disso, ninguém larga de junto da máquina. Como se estivessem aguardando pelo desfecho de um parto difícil, com curiosidade e tensão, com medo e ansiedade, com um desejo genuíno de que tudo corra bem e com um receio não menos verdadeiro que num segundo o sonho se desfaça. É nesse momento que nos apercebemos claramente da importância daquilo que estamos a fazer. Mais até do que no momento da inauguração em si.
Todas as intervenções são importantes, mas a verdade primordial é que sem água não existe vida. E com tanto tempo e saúde que são poupados com este tipo de intervenções a esta gente que teve de caminhar e sofrer tantos anos, aqui encontramos um sentido. Um fim e um propósito.
domingo, 17 de maio de 2009
O País da Kalash e do Refresco.
sábado, 16 de maio de 2009
quinta-feira, 14 de maio de 2009
sábado, 9 de maio de 2009
O Homem e a Montanha.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A Arte da Dissimulação.
terça-feira, 14 de abril de 2009
A Terceira Páscoa.
sábado, 11 de abril de 2009
terça-feira, 7 de abril de 2009
A Diferença do Braço.
sábado, 4 de abril de 2009
Domingo Nove.
Comecei a suspeitar que algo de estranho se passava quando, na distribuição de material que até partilhei contigo numa foto ali em baixo (a do carro ao pé da árvore), chamei por uma criança de seu nome Sábado Trinta.
Sábado Trinta?
Pois é. Eu merecia ser Domingo Nove.
Já se sabe que, quando um nome termina em "es", isso significa "ser filho de". Por exemplo, Mendes é filho de Mendo. Nunes, de Nuno. Rodrigues, de Rodrigo, Gonçalves de Gonçalo, e por aí fora. Isso é tudo muito simples. Mas agora, Majuma é um fenómeno à parte. É talvez o único nome da língua portuguesa que denuncia que, se é Majuma, tem uma irmã e que essa irmã tem de ser mais velha. E isto não sou eu que, vítima de um tédio tal, já papei todos os Dr. House e Sherlock Holmes que já foram feitos, decidi meter-me agora a detective. É apenas porque Majuma é mais uma, num belo sotaque de Viseu adaptado às Áfricas outrora portuguesas...
E como este, muitos outros fenómenos, mas que só te direi se pedires muito...
quinta-feira, 2 de abril de 2009
A Famosa Galinha-Brava.
Existe um supermercado com ar disso em Nampula. Chamam-lhe Shoprite, que deve ser lido como se lê Sprite, ou seja, com o “i” aberto, para que pareça que se está a dizer “Shop Right”. É um supermercado, que faz lembrar o Pingo Doce da minha vida, o que fica na Avenida da República, em Gaia, aquela que aparecia nas notícias de trânsito antes de haver mais estradas, variantes e circulares do que há pessoas. Em Gaia. Antes era Pão de Açúcar. Eu preferia Pão de Açúcar, com o elefante. E os sacos plásticos eram laranja.
O Shoprite tem de tudo um pouco, incluíndo a invejável aura de local muito perigoso. Não lá dentro. Lá dentro, o perigo está na prateleira da carne, normalmente de cores variadas e cheiros intensos. É cá fora. Não para mim, ou para ti, mas para o carro. Se fores ao Shoprite, think rite as well, don’t take your car. Porque a menos que já conheças a malandragem que por ali passa os dias ou que dês sempre a moedinha de dez meticais, vai faltar-te alguma coisa. Um espelho. Um pisca. Um dia destes, uma jante. Ah e não têm fiambre. Mas cá fora, a batata é mais barata. Na candonga, que aqui é pomposamente designada mercado informal. Convenhamos, seria um passo civilizacional demasiado largo chamar-lhe mercado negro. Quando isso acontecer, as ONGs deixarão de existir.
Não me importam muito as convenções nem as tradições nem as conveniências nem as formatações nem as normas nem as vergonhas nem aquilo que é esperado. Importam-me mais as memórias e as sinceridades, as verdades e as saudades, as ansiedades e as memórias que tenho de tempos e de momentos que recordo tão bem e que são tão reais que ainda consigo sentir e cheirar e ver que tenho a certeza que esses tempos não são tempos, são realidades que resistem e que existem agora algures num espaço que não sei onde fica, mas que sei que pelo menos da minha memória não fogem. Na minha memória estão seguros. Estão comigo.
Nada fica e nada regressa.
É como os amigos que nos morrem. Ou que não morrendo, deixámos para sempre. Já falei disto antes. É como eles. Que se vão, que nunca mais veremos mas que no fundo ficam para sempre no momento em que foram. Nas nossas cabeças. Nas nossas memórias. Eles continuam a viver, apenas com o detalhe de nunca envelhecerem. Eles ficam lá. Eu tenho, não tive, amigos que o foram e que o são e que só vão morrer quando eu morrer. Somente muito mais novos que eu. Eu também vou morrer, com muitas idades, em muitas memórias, em muitos locais, muitas vezes. E em ti, também.
Mas choramos sempre, não é? E às vezes choramos tanto…
Só. No meu caminho. Estreito, entre vozes e risos. Vozes que são a minha companhia, risos que me mostram os perigos. Como fantasmas.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
domingo, 29 de março de 2009
O Antes e o Depois.
sábado, 28 de março de 2009
As Mamãs de Natcheche.
quinta-feira, 26 de março de 2009
O Outro Midas.
Mas tudo isto é o Missionário, que parece ter um toque de Midas para trazer vida e dinâmica a tudo aquilo que toca. O que nesta terra tão pobre vale mais que ouro. Antes da sua chegada, a Missão do Marrere era uma memória, um rasto quase apagado dos tempos áureos, uma recordação abandonada ao tempo e à incúria.
Neste momento é um dos nossos principais parceiros de acção. O esquema é muito simples: ao encomendar à Missão produtos ou serviços de que precisamos para aplicar nas comunidades rurais onde intervimos, através da carpintaria, da serralharia ou de outros serviços, estamos a apoiar duas vezes com um só montante: a Missão, que é paga pelo serviço e a comunidade que beneficia directamente da iniciativa.
Por vezes, ao fim de semana, damos lá um salto para tomar café com ele. E por lá ficamos toda a tarde, debaixo de um alpendre muito simpático, a bebericar um digestivo e a falar de tudo e de nada. Apenas a apreciar o ar e as cores quentes de África e a companhia dos outros desterrados. A deixar o tempo passar lentamente, alternando debates mornos com períodos intermináveis de silêncio que em momento algum são desconfortáveis.
O Missionário lembra-me outro, que sem o ter sido efectivamente, é-o todos os dias da sua vida. E que me induzia um sentimento de ser bem acolhido e de estar protegido onde quer que me encontrasse com ele. E de quem sinto muitas saudades. Alguém que a vida levou para outro caminho, diferente do meu. Há pessoas assim, que conseguem criar-nos essa sensação de segurança, de apoio e de acolhimento genuíno, só pelo gesto e pelo comportamento, pelo olhar e pelo tom da voz. São homens de Deus. São homens com Deus. E estes homens são assim.
terça-feira, 24 de março de 2009
A Pausa.
sábado, 21 de março de 2009
A Laranja Azeda.
Em vez de uma vida imprevisível, plena e apaixonada.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Mundo Humano.
Helpo - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento.