domingo, 29 de março de 2009

O Antes e o Depois.

Perguntavas-me agora mesmo como vai ser depois. Que não, depois não vou ser igual. Mas se ainda não sabes sequer como será antes, como queres já adivinhar o que vai ser depois?...
Os domingos à noite são sempre nostálgicos. Talvez por serem o fim de algo e a véspera do início de outra coisa. Talvez porque a noite anterior foi tão inesquecível, que passamos a seguinte a recordá-la. Ou porque não passa nada de jeito na televisão e não apetece cumprir os compromissos naturais. Ou porque nos sentimos miseráveis pela vida triste que levamos e que vai repetir-se amanhã. Quando na verdade, a miséria só está na cabeça de cada um.
Somos o produto de todos os momentos que vivemos. Das reacções que temos quando conhecemos alguém, quando interagimos com os outros, quando vemos e cheiramos e tocamos e ouvimos e provamos algo novo. Ou velho. Somos permanentemente o antes e o depois de nós próprios, em cada segundo que passa. E então? Vamos enlouquecer a pensar nisso, como se estivéssemos enfiados numa sala de espelhos? Isto é um facto inevitável, tão inevitável como o facto de estarmos vivos quando lemos isto.
O que realmente interessa é o que fazemos disso. Se aprendemos ou não. Se crescemos ou se ficamos. E se temos medo de fazer. É isso que interessa.
Por isso, não há muito mais que possa dizer-te. Excepto que

sábado, 28 de março de 2009

O Titio de Natcheche?


Ou a próxima boys band do pedaço.

As Mamãs de Natcheche.

Hoje foi dia de festa. Inaugurámos dois poços. Distribuição de sumo e bolachas pelas crianças. Banda de um orfanato particular de inspiração evangélica a tocar de cima da carrinha de caixa aberta. Povo dançante. Pais e mães (que aqui são tratados por "papá" e "mamã" por todos, independentemente de serem mesmo filhos ou não dos visados), líderes comunitários, feiticeiros, professores, todos presentes. Até o Missionário deu lá um salto.
Todos radiantes com a festa e, já agora, também satisfeitos por já não terem de fazer quilómetros debaixo deste sol assassino para terem água para beber. Sorrisos, cantigas, danças.
Mas as mamãs... As mamãs são de derreter o coração.

























São rostos marcados, rostos queimados. Mas são sorrisos e olhares que são lições. Para ti e para mim.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Sol a Morrer.


O Outro Midas.

Ainda sobre os laços e sobre a tendência para estabelecer relações de afecto e procurar replicar os objectos de saudade em contextos de solidão e de adaptação a ambientes (aparentemente) hostis...

Por vezes, pode ser um objecto improvável. Não tem de ser necessariamente saudade do pai ou da mãe - ou de ambos; do parceiro ou da parceira - ou de ambos; do cão ou da cadela - ou de ambos; do amigo ou da amiga - ou de ambos; da playstation ou da nintendo - ou de ambos; do bacalhau com natas ou do arroz de cabidela - ou de nenhum.

Por vezes funciona ao contrário: por encontrarmos uma réplica (e só depois disso) de algo que está no nosso passado, apercebemo-nos da saudade sentida do objecto de saudade propriamente dito. Algo de que antes não sentíamos saudade de forma consciente.

Eu tinha saudades de alguém que em dada altura da minha vida desempenhou um papel bastante importante, mas não me dava conta disso. Até que encontrei o Missionário.

O Missionário é um homem de quarenta e alguns anos e está em Moçambique há onze. Homem endurecido pelo tempo e pela terra. Homem de obra e de palavra. Simples mas determinado, beirão, como só um beirão sabe ser. Passou vários anos em Murrupula, a setenta quilómetros de Nampula, bem no meio do mato africano, no fundo do fundo do fundo, onde aparecem aldeias ao virar de uma curva de picada tapada pelo capim, após quilómetros e quilómetros de condução difícil pelo meio do verde exuberante. Lá, cristianizou comunidades animistas, construiu um hospital, fez escolas, deu ordem, propósito e um conceito a centenas de vidas. Sempre com o ar mais bonacheirão, calmo e sorridente que é possível imaginar em alguém que um dia resolveu dar a vida pelos outros.

Nós, que também trabalhamos nesse fundo do fundo do fundo, sentimos a todo o momento a profunda influência que este homem deixou, a marca deixada a ferro quente, que se sente no amor daquela gente por ele, sussurrado pelas vozes e estampado nos olhares, quando nos perguntam pelo amigo que mudou as suas vidas para sempre.
Há alguns meses, a hierarquia enviou-o para um novo desafio: a Missão do Marrere, comunidade dos arredores de Nampula, a cerca de dezasseis quilómetros.
A Missão tem um hospital que está a ser recuperado e que recebe doentes de todo o lado e que já foi um dos melhores hospitais de toda a província; tem uma escola politécnica que ensina e forma centenas de jovens; dá trabalho e emprego a dezenas de pessoas, havendo de tudo: carpinteiros, serralheiros, agricultores, professores, contínuos, empregados domésticos, pedreiros, trolhas, médicos, enfermeiros, etc; tem "machambas" (hortas) que tiram a fome a uma população inteira, ocupando um território que literalmente se perde de vista. Um oásis no deserto, uma ilha de esperança no meio do nada.





Mas tudo isto é o Missionário, que parece ter um toque de Midas para trazer vida e dinâmica a tudo aquilo que toca. O que nesta terra tão pobre vale mais que ouro. Antes da sua chegada, a Missão do Marrere era uma memória, um rasto quase apagado dos tempos áureos, uma recordação abandonada ao tempo e à incúria.

Neste momento é um dos nossos principais parceiros de acção. O esquema é muito simples: ao encomendar à Missão produtos ou serviços de que precisamos para aplicar nas comunidades rurais onde intervimos, através da carpintaria, da serralharia ou de outros serviços, estamos a apoiar duas vezes com um só montante: a Missão, que é paga pelo serviço e a comunidade que beneficia directamente da iniciativa.

Por vezes, ao fim de semana, damos lá um salto para tomar café com ele. E por lá ficamos toda a tarde, debaixo de um alpendre muito simpático, a bebericar um digestivo e a falar de tudo e de nada. Apenas a apreciar o ar e as cores quentes de África e a companhia dos outros desterrados. A deixar o tempo passar lentamente, alternando debates mornos com períodos intermináveis de silêncio que em momento algum são desconfortáveis.

O Missionário lembra-me outro, que sem o ter sido efectivamente, é-o todos os dias da sua vida. E que me induzia um sentimento de ser bem acolhido e de estar protegido onde quer que me encontrasse com ele. E de quem sinto muitas saudades. Alguém que a vida levou para outro caminho, diferente do meu. Há pessoas assim, que conseguem criar-nos essa sensação de segurança, de apoio e de acolhimento genuíno, só pelo gesto e pelo comportamento, pelo olhar e pelo tom da voz. São homens de Deus. São homens com Deus. E estes homens são assim.

terça-feira, 24 de março de 2009

A Pausa.

Eu avisei-te. Moçambique tem destas coisas. Não há nada garantido, tudo é precário e provisório.
Estamos sem internet desde Sábado e sem perspectivas imediatas de resolução. Basta cair uma chuva ou um grupo de bandidos roubar algum do cabo que se estende ao longo dos dois mil quilómetros que separam Nampula de Maputo.
Não fiques triste. Não me esqueci de ti, nem vou esquecer. Talvez amanhã, talvez depois. Mas voltarei aqui, para continuar a contar-te esta história.

sábado, 21 de março de 2009

A Laranja Azeda.

Um custo inerente à vida nómada é acabar por conhecer muitas pessoas e muito diferentes umas das outras. Diz-se custo para os indivíduos sensíveis, que precisam de expressar e trocar emoções com outro, qualquer outro, com quem haja algum tipo de identificação e com quem se partilhe experiências e narrativas de vida semelhantes. Como se para replicar uma vaga sensação de estar em casa. Poderíamos falar de benefício, diriam os mais optimistas ou inexperientes: "Eh pá, então não é bom ter conhecimentos nos quatro cantos do mundo?" Não. Em si mesmo, não é especialmente bom. Na verdade, é bom porquê? Porque temos um número de telefone para onde ligar se, um dia, por um enorme acaso, voltarmos a esse local? Para mostrar aos nossos amigos estarrecidos a nossa exótica lista telefónica? Na verdade, trata-se mais de um custo do que de um benefício, devido ao desgosto da inevitável separação, fatal como a morte. Mais durável e mais profundo que qualquer "amizade" passageira. Há poucos estados de alma tão tristes e amargos como aquele que é dominado pelo desgosto da separação. Por isso, a prevenção aconselhada para evitar este tipo de incómodos é, simplesmente, não aprofundar laços, desde logo. Dever-se-á, com certeza, estabelecer relações de parceria reciprocamente úteis e eficientes, das quais saiam vantagens concretas para as partes envolvidas, mas transitórias no tempo e cordiais no modo. É de sublinhar novamente que o acto de colocar emocionalidade nessas relações é um passo certo para a dor da perda, que indiscutivelmente é das dores mais penosas que podem ser sentidas durante a vida de uma pessoa - v.g., a morte de um ente querido.

Um bom exemplo para o exposto fica ilustrado pela foto em baixo, em que se questiona: que seria do indivíduo se se afeiçoasse a coisas alegadamente fofinhas e maravilhosas como esta? Obviamente, trata-se de uma estratégia maliciosa para emocionar o observador desprevenido e, dessa forma, obter uma posição de vantagem relativa e tirar proveitos disso. O indivíduo deverá manter-se frio nas avaliações que faz e mecânico nas tarefas que desempenha, a todo o tempo, a bem do seu próprio equilíbrio mental.
Assim, terá uma vida tranquila, planificada e sem surpresas...

Em vez de uma vida imprevisível, plena e apaixonada.


quarta-feira, 18 de março de 2009

Mundo Humano.

Helpo significa "ajudar" em esperanto, para que todos entendam e ninguém fique de fora. Para que a universalidade da acção se fundamente na universalidade da palavra e esta se reflicta naquela. Para que todos se sintam responsáveis.

Educar para o Desenvolvimento. Dar a cana, dar o anzol, dar o isco, mostrar como se lança a linha e dizer e repetir e convencer que é possível.
Insistir e resistir. Insistir nas convicções e resistir contra as probabilidades.

Nós e eles...


Helpo - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento.

http://www.helpo.pt/

domingo, 15 de março de 2009

Os Fins e os Meios.

É bastante provável que acabe por abordar este tema muitas vezes, ao longo desta história que vou contar-te. Espero não me tornar aborrecido. Espero que compreendas. Trata-se daquilo que me trouxe aqui.
O que faço.
Bem. Muitas coisas. Uma delas é ir às comunidades rurais de Nampula, concretamente às escolas básicas locais, para realizar distribuições de material escolar, brinquedos, sabão ou prendas que os padrinhos das crianças oferecem. Mais tarde falarei do processo subjacente ao apadrinhamento, mas mais tarde, está bem? Se eu contar tudo de uma só vez, perde a piada...
Chegamos à escola, que, se na maior parte dos casos significa uma ou duas casas feitas de lama e palha, noutros significa a sombra da maior árvore das redondezas. A escola de Makassa é uma honrosa excepção, onde, graças aos esforços de alguns, foi construída uma escola que faz jus ao nome. O Dionísio, que é o menino que está comigo na foto em baixo, é um dos felizes contemplados com a nova escola, bem como com um poço, que foi terminado na sexta-feira.
Isto dos poços é assunto muito sério. Possivelmente lá para o fim desta semana, falo-te mais sobre isso, uma vez que vamos inaugurar dois que foram financiados e mandados construir pela organização.
Bom. Então, não é complicado. No dia anterior à distribuição, lá para o fim da tarde, começamos a preparar os kits com o saco, lápis, caderno, borracha e por vezes mais qualquer coisita. Além disso, também preparamos as prendas individuais dos padrinhos.
No dia seguinte, já conheces o início, pelo menos a parte da estrada, do vento e do Sol e dessas lamechices todas. Acerca disso, poderia dar-te o lado negro da viagem. Da forma mais cínica e sarcástica que me fosse possível. Mas não vou fazê-lo. Não te vou falar das crateras na estrada nem da experiência que vais ganhando em manuseamento de veículos ligeiros quase pesados. E da consequente destreza no desvio de carros que se dirigem a ti na tua faixa, só porque a faixa deles está na verdade cortada devido a uma dessas crateras. Indianos ricos às portas das suas lojas que vendem mantas, bicicletas, chaves de fendas, bolinhos, mães de indianos, terrenos na Lua e eles próprios, pelo preço certo. Lixo por todo o lado. Pessoas a percorrerem a pé, todos os dias, dezenas de quilómetros para ganharem um euro por dia. Dezenas de "chapas" transportando quem vive mais longe da cidade.
Bom. Chegamos à comunidade. Dependendo de alguns factores (também destes falarei depois), as crianças poderão vir ou não atrás da pick-up enquanto gritam o nome da organização. Não deixa de ser algo preocupante e constrangedor. Preocupante porque aumenta a responsabilidade: se temos crianças a gritar o nosso nome e algo corre mal depois, as consequências serão tão mais graves quanto as expectativas à chegada, que eram manifestamente altas; constrangedor porque não viemos salvar ninguém de coisa alguma, apenas trazer um pequeno extra àquelas vidas tão carenciadas. Um pequeno alívio. Alívio que é um meio para alcançar e dar algo maior. Não se pense que o objectivo final é dar cadernos ou brinquedos. Pelo menos, o meu. O meu objectivo é outro.
Distribuímos o que temos, da forma mais ordeira possível, com a ajuda de um ou dois professores. O jeito é algo clínico. É um jogo perigoso: não faz sentido entregar algo a uma criança com uma expressão sisuda, mas por outro lado é preciso cautela, para não nos envolvermos demasiado.
Depois vêm os chavões, que alimentam a alma. Os olhos enormes, os sorrisos escancarados, os esgares envergonhados... São chavões, mas alimentam mesmo a alma...

Raça Humana.


















Pingyao, China. Março 2007

















Makassa - Nampula, Moçambique. Março 2009
















Angkor Wat, Cambodja. Setembro 2007


Uma Terra, uma Raça.

A Resposta.


Há quanto tempo me perguntas se estou bem?

Há quanto tempo te respondo sempre da mesma forma?

A vida é um caminho que se faz uma só vez. Por isso, tem calma. Tenho todo o tempo do caminho para vir a ser feliz.
Lembras-te da minha professora de Introdução, do 1.ºano? A melhor de todos... Ela contava-me que nunca tinha dado vinte a aluno algum, porque dar um vinte significaria assumir que nunca mais na sua carreira de professora poderia vir a ter um aluno com capacidades superiores àquele a quem tinha acabado de dar vinte. O que faz sentido.
A vida deve ser vivida assim. Deve ser trabalhar no duro para o vinte, sem algum dia se aceitar que se chegou lá.
Olhas para mim, franzes o sobrolho, encolhes os ombros e perguntas por que decidi assim. Mas pensa... Teria eu outra opção? Eu não quero só dezanove.
Não, não estou bem. Mas sabes, nunca estive nem estarei. Porque sou assim, porque não consigo compreender nem imaginar outra forma de ser. E já é tempo de finalmente sorrir e respirar fundo e feliz com isso. Aqui, aí, ou noutra parte qualquer do mundo, se existisse.

E tu, como estás?

sábado, 14 de março de 2009

A Vitória.


Ainda restam dúvidas?

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Estrada e o Vento.

Todos os dias saímos bem cedo de casa para nos fazermos à estrada.

São minutos de silêncio. São minutos do nosso silêncio.

Minutos onde se ouve o som do carro, da rádio que fala o português de casa, onde se cheira a rua e o céu, minutos em que sabemos que vamos para onde viemos de onde nada há mas tudo chega.

Com o Sol já tão quente a fazer-nos fechar os olhos, com o vento a embalar-nos o sono que ficou para trás.

A estrada é longa, recta perpétua, nesta terra que não acaba.


quinta-feira, 12 de março de 2009

A Viagem.

Como bem sabes, há cerca de dois anos fiz uma despedida semelhante. No mesmo local, parti para aquela que chamei "a segunda parte". E que bem que a chamei assim.


Nestas viagens longas, que normalmente envolvem noite, vêem-se coisas espantosas, se, como eu, não se dormir com facilidade a dez quilómetros de altitude. Quero dizer, coisas espantosas vistas de cima para baixo.

Desta vez, que levantei de Frankfurt para pousar em Joanesburgo, pensei que, de outra forma, fosse um impacto semelhante ao que tive quando saí de Londres para Pequim. A verdade é que não há como a primeira vez. Claro que arrepia voar uma, duas horas seguidas e não ver uma única luz lá em baixo. Voar à noite sobre África é assim. Mas não foi o mesmo que ver as gigantescas fogueiras-farol perdidas na imensidão gelada de que te falei da outra vez. Londres à noite, a Sibéria ou o Deserto de Gobi, o meu deserto de todas as revoluções, a Outra Porta, aquela que se fechou atrás de mim quando a cruzei, foram encontros directos com a magnitude do nosso mundo. Do criado por Deus e do outro.


Chegar a Joanesburgo é chegar a África, acontecimento mítico já contado e recontado por centenas de escritores e de amadores. Porém, é um chegar algo ensosso, pois não é possível sair do aeroporto, que por sua vez é todo ele ocidental. Digo isto porque a chegada a África pede que se respire o seu ar e se sinta o seu sol na face. Em Joanesburgo só através dos olhos deixam provar África. Que já não é pouco, mas que não chega. Para ambientes condicionados e herméticos já chegou o resto da minha vida, portanto, vou deixar para depois essa parte.


Após algumas horas no dito, deixei a África do Sul, que dá pistas e aromas leves do que vai ser encontrado depois, com tanta cor que se vê nas roupas das senhoras que passam, ou nas línguas estranhas que roçam os ouvidos a todo o tempo.


O dia estava bonito, com muita luz. Contrariamente ao que me acontece sempre, desta vez tive sorte e não calhei no lugar junto à asa. O vôo Jo'burg - Maputo é bastante curto, cerca de quarenta e cinco minutos, mas é suficiente para sufocar a visão de tanto verde.


Sair do avião em Maputo é entrar numa máquina do tempo. O aeroporto, como outros em Moçambique, tem varanda para quem quiser esperar os seus entes queridos enquanto observa os aviões a partir e a chegar. Se bem que, neste caso, não houvesse mais que um avião da TAP e aquele em que eu cheguei para se ver na única pista existente.


Sair significa molhar os pulmões com uma água que permanentemente está no ar e que ainda não me saiu. Uma água quente, que se insinua persistente na pele e nos olhos no preciso instante em que se contacta com o ar africano. Em Maputo, atravessa-se a pista a pé e entra-se no terminal por uma porta estreita (a única) que ao lado tem uma pequena placa de madeira, muito velha e estragada, com a inscrição "Gate 10". Não vi os outros nove...


Como podes imaginar, nesta altura, já com vinte horas de viagem, sentia-me algo cansado. Tive de esperar longamente na sala de espera para que um funcionário do aeroporto gritasse "Nampula" e a fila para sair da sala e entrar no avião começasse a formar-se. É assim que em Maputo se faz a chamada para o "boarding". Depois, foi mais uma hora dentro do avião que, por uma razão desconhecida, não partia. Trata-se de aviões que fazem ininterruptamente a viagem Maputo-Nampula-Pemba-Nampula-Maputo, qual ryanair dos trópicos.


Ainda não deixei de estar cansado. Desde que aqui estou, a temperatura nunca baixou dos vinte e oito graus, com tanta humidade. O fim do dia significa necessidade urgente de tomar banho, sob pena de a confusão ser tanta que já nem se percebe se somos gente ou pedaços ambulantes de nhanha. Mas não te preocupes: tenho água e sabão a rodos. Excepto depois da meia-noite.

Mais duas horas, mais verde a perder de vista. E depois, por fim.
Nampula.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Pemba.

Pemba sou eu. Criança, ingénua, à descoberta, respirando tudo o que a rodeia, sorrindo.

Pemba é a nossa bebé de dois meses. Que trouxe olhos verdes e que não pediu licença para ser tão linda. Uma boa metáfora para o princípio, a redenção e a esperança.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Gobi Reloaded.

Pensei bem.

Mas entre isto, "The Nampula Redemption" ou "A Conspiração do Mosquito", preferi assim. Vou escrever para mim, não preciso de aprovações.

Bom dia, meu amor. Hoje, logo hoje, começo outra história.