segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Clara Certeza da Escolha.


Por vezes, há certos momentos breves que definem o resto da vida de quem os vive. Não falo daqueles que por si mesmos alteram inevitavelmente o rumo dessa vida, mas daqueles que, depois de sucederem, obrigam o indíviduo a olhar o espelho e a fazer uma escolha que, essa sim, alterará a sua vida.

Pode ser o nascimento de um filho; a morte de um parente; uma doença séria; uma promessa feita a alguém; ou o confronto directo e imediato com a eventualidade da sua própria morte.

A necessidade de fazer uma escolha em dois segundos, que pode determinar o resto da vida. A certeza clara que, dessa escolha, feita de súbito, sem tempo para ponderar, pode resultar a própria morte. Essa é uma experiência pela qual nem todos passam, mas que é encantadoramente saudável, na medida em que mostra de modo muito transparente aquilo de que somos feitos.

Eu só fui tomar um café depois de jantar. Toda a vida o fiz. Em Portugal, no bairro mais obscuro de Saigão ou numa cidadezinha escura e fria da Europa de Leste, à noite, de dia, nunca deixei de tomar o meu café quando realmente queria um. Faz parte de ser Português, acho eu. E faz parte de mim.
Porém, na verdade, o café foi desculpa, porque o que se procurava mesmo era sair de casa, apanhar ar, desentorpecer as pernas, tentar atenuar um pouco esta sensação de prisão permanente, arejar a cabeça deste sufoco mental. Nada de mais. O café ficava a cem metros de casa. Não era pedir muito. E era a primeira vez que o fazia desde que pus pé nesta terra.







No regresso, tive o meu momento breve.






Mas essa é uma escolha.

A escolha de que falo é a que vem depois, em resultado da primeira. É da mesma forma inevitável, sendo a diferença entre elas haver nesta a possibilidade da reflexão e da planificação, onde existe ainda a vantagem de juntar outros elementos e outros momentos - mesmo que com menos impacto - ao juízo que está a ser formado.

São contas de deve e de haver.

Sempre me disseram para ter cuidado. A cidade não é muito agradável. Nunca me disseram propriamente que é um esboço de favela, onde não é possível dar um simples passeio à noite e onde é imperativo trancar as grades de fora, as grades de dentro e as portas da casa. Fui ficando a saber. E, desde há oito dias, fiquei a saber melhor.

E a necessidade da escolha, assim, sem que se peça ou se queira, impõe-se, inevitável.

1 comentário:

  1. A escolha no momento, 'on the fly', em cima do joelho, à bruta, só é saudável, quando fazes a escolha certa. Quando o resultado pode ser mortal ou mortífero não é lá muito saudável escolher mal.

    E a segunda escolha? Agora que sabes e viveste na pele o perigo de sair para tomar um café, que enfrentaste a escolha perigosamente saudável, é se voltas a sair a seguir ao jantar para um café. Aí, aqui ou numa favela no Brasil.

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